“Naamã, comandante do exército do rei
da Síria, era grande homem diante do seu senhor e de muito conceito, porque por
ele o SENHOR dera vitória à Síria; era ele herói da guerra, porém leproso” (II
Reis 5.1).
Introdução
A história de Naamã demonstra a
providência de Deus (vv 1-14), seu poder e sua graça redentora (vv 15-19). A
narrativa do texto nos leva a compreender que a graça salvadora de Deus não se
limitava apenas a Israel, mas se estendia a todos os outros povos, pois Ele não
faz acepção de pessoas (At 10.34). Deus é misericordioso e a sua compaixão
alcança os perdidos para que esses possam conhece-lo e reconhece-lo como o
único Deus verdadeiro (Lc 4.18,19; 25-27).
As
Características de Naamã
Já no primeiro versículo do texto há a
referência de quem é Naamã, um homem honrado, vitorioso, poderoso, comandante
do exército do rei da Síria, muito conceituado diante do seu senhor por suas
conquistas militares. Entretanto, o versículo encerra com um, “porém leproso”. Esse,
porém, dá a entender que, a lepra suplantava todas as características
mencionadas anteriormente, ou seja, tornando-as sem importância nenhuma.
A
Lepra de Naamã
A lepra é uma doença bacteriana que
ataca o sistema nervoso, o que faz com que a pessoa perca a sensibilidade,
sobretudo no que diz respeito a dor. Em casos mais graves, ocorre gangrena,
provocando mutilações em partes do corpo. Hoje há tratamento para essa doença,
mas na época de Naamã, não havia. As pessoas eram segregadas do seio da família
e da sociedade para uma vida sem esperança até a morte chegar. Naamã, era talvez, um homem invejado por
muitos, mas ninguém, exceto sua família sabiam o drama que se escondia por
detrás da sua farda.
O Pecado, doença letal
Fazendo
uma analogia, a lepra se assemelha ao pecado. O pecado deforma a alma, faz
separação entre Deus e o homem (Is 59.2) e conduz à morte (Rm 6.23). O pecado
oferece uma vida de ilusão, de aparente sucesso, mas esconde a solidão, a
tristeza e a vergonha. Naamã podia usar um traje elegante e ocultar sua
enfermidade, mas na sua intimidade ele tinha que conviver com o seu problema,
tinha que se submeter a uma vida de reclusão, longe da esposa, talvez dos
filhos, não se sabe.
Quantas
pessoas vivem entregues a uma vida de aparência no trabalho, na sociedade, mas
quando chegam em casa, as máscaras caem porque não tem como negar o que se é
diante daqueles que nos conhecem na intimidade e então, no recôndito do lar, as
grandes tragédias se desenrolam e famílias são assoladas pelo sofrimento que as
conduz a destruição.
A Misericórdia de Deus
O
Salmo 139 fala que Deus sabe tudo a nosso respeito e não há como fugir do seu
olhar. Ele nos conhece na intimidade, sonda e conhece todos os nossos caminhos,
conhece nossos pensamentos e, antes mesmo que as palavras saiam da nossa boca,
Ele já as sabe. Ele é um Deus Transcendente, criador dos Céus e da Terra, e de
todas as coisas que há. Mas é também um Deus imanente, que se relaciona
conosco, que se compadece dos nossos sofrimentos e que nos ajuda.
Deus,
tinha um projeto na vida de Naamã que nem ele mesmo imaginava. Ele era admirado
e respeitado por todos por ter concedido tantos livramentos à Síria através das
suas atividades militares, mas não sabia que era o SENHOR que lhe concedia as
vitórias. Deus o havia escolhido e as circunstâncias que se seguiram serviram
para atraí-lo para si mesmo. Estava tudo indo bem, Naamã sequer tencionava
mudar sua vida, mas foi obrigado a fazê-lo, mudando a rota do seu destino para
ir ao encontro com Deus porque assim as circunstâncias o impulsionaram.
Quantas
vezes também, somos conduzidos a Deus mediante o sofrimento? Talvez esse seja o
remédio amargo que ninguém deseja experimentar, mas que nos conduz a presença
de quem pode nos conceder a cura. O pecado é uma doença que traz deformidade a nossa
alma e só o Senhor tem poder para nos libertar desse mal, nos perdoando e nos
restaurando.
Muitas
pessoas se acham autossuficientes e acreditam que não precisam de Deus para
nada. E quando submetidas ao sofrimento elas passam a reavaliar a sua própria
condição e, não raras vezes, reconhecem o poder de Deus e a sua dependência
dEle.
Nabucodonosor (Dn 4:29-37), era também um homem que atribuía a si mesmo todas as conquistas e mal sabia ele
que era Deus quem lhe concedia todos os benefícios porque havia um propósito
divino para que isso acontecesse. Mas quando a sua soberba chegou ao extremo,
Deus deu um basta e num piscar de olhos o conduziu a uma situação de extrema
humilhação, onde passou a viver acometido de licantropia, porque “a soberba
procede a ruína” (Pv 16.18). Permaneceu nessas condições o tempo necessário
para que pudesse então compreender a sua insignificância e reconhecer a
soberania de Deus, atribuindo-lhe a glória que lhe é devida.
Naamã
foi conduzido à presença de Deus mediante a situações adversas. Mas Deus estava
no controle e todas as coisas contribuíram para que os planos de Deus se
cumprissem na sua vida, conforme disse Jó “bem
sei que tudo podes e nenhum de seus planos podem ser frustrados” (Jó 42.2).
Testemunho de uma jovem muda a história
de Naamã – v 3
Havia
uma jovenzinha na casa de Naamã que fora trazida de Israel como escrava pelas
tropas Síria e que agora prestava serviço para sua esposa em sua residência. Nada
se sabe sobre essa moça, exceto o que está descrito nos versos 2 e 3 do
Capítulo 5. Embora ela estivesse ali naquele lugar em condição servil, longe de
sua casa, de sua família, ela não endureceu seu coração, muito pelo contrário,
vendo o sofrimento daquele homem, se compadeceu e mostrou que havia uma solução
para o caso. Anunciou que havia em Israel um Deus que operava através de um
profeta. Pelo seu testemunho, tornou-se um instrumento de salvação para aquele
homem. (vv 14,15).
“Disse ela à sua senhora: Tomara que, o
meu senhor, estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria
da sua lepra” (v 3).
Talvez
essa menina não entendesse os motivos de Deus ter permitido que ela estivesse
naquele lugar e naquela condição em que se encontrava. Mas não perdeu tempo
murmurando. Certamente desempenhava bem o seu papel, tanto que ganhou a
confiança de sua senhora a ponto de ter com ela a liberdade de falar sobre um
caso tão delicado que afligia a família.
Quem
sabe você também esteja vivenciando algo semelhante e não esteja entendendo o
porquê disso tudo. Talvez você esteja em um ambiente hostil e as condições não
lhe sejam favoráveis e isso lhe tem entristecido o coração a ponto de você
estar pedindo pra Deus tirar você desse lugar.
Porém, se há um propósito de Deus para você ser um instrumento de
salvação na vida de alguém, pode ser que você tenha que continuar aí por mais
algum tempo. Aproveite para orar por aqueles que precisam ser alcançados pela
graça de Deus. Você pode ser a única esperança para eles.
Deus não impediu que
Daniel fosse colocado na cova com os leões, mas deu-lhe um grande livramento e
utilizou-se dessa circunstância para que seu nome fosse glorificado.
Naamã Tomou Posse da Vitória – v 4
Tão
logo tomou conhecimento do que a menina havia falado, Naamã dirigiu-se ao rei colocando-o
a par de tudo (v 4). Em seguida, o rei entregou-lhe uma carta de recomendação e
mandou que entregasse ao rei de Israel. Mais do que depressa Naamã saiu,
levando consigo cerca de trezentos e cinquenta quilos de prata e aproximadamente,
setenta quilos de ouro, além de peças de roupas finas (vv 5,6).
Direção Errada – vv 6,7
A
carta que o rei havia entregue a Naamã o direcionava a buscar o socorro do rei
de Israel, cujo teor dizia: “Logo em chegando a ti esta carta, saberás que te
enviei Naamã, meu servo, para que o cure da lepra’ (v 6). Após ler o conteúdo
da carta, o rei de Israel em sinal de protesto, rasgou suas vestes e disse:
“Acaso sou Deus com poder de tirar a vida ou dá-la para que este envie a mim um
homem para eu curá-lo de sua lepra? ” (v 7).
Naamã
bem sabia que este não era o caminho que deveria percorrer pois ouviu da menina
sobre o profeta de Israel, no entanto, deixou-se conduzir por outro homem, no
caso, o rei, que desconhecia por completo as coisas de Deus e agiu segundo o
seu próprio entendimento. Seguindo suas orientações, Naamã apenas conseguiu
retardar suas bênçãos, desviando-se do caminho que deveria seguir.
Temos
que tomar cuidado com os direcionamentos errados que tomamos e que apenas nos
faz desperdiçar tempo desnecessário prolongando o sofrimento. O próprio rei de
Israel admitiu que não poderia fazer nada para ajudá-lo, naquele caso. Tem
coisas que não compete ao homem resolver, só Deus. Não adianta bater em portas
erradas, melhor é encurtar o caminho e ir direto a Ele.
Os Caminhos da Cura da Alma – v 8
Ao
tomar conhecimento do que estava acontecendo, o profeta Elizeu disse ao rei
para que conduzisse aquele homem para si para que soubesse que verdadeiramente
havia profeta em Israel (v 8). Naamã então seguiu em direção a casa de Eliseu.
Deus poderia muito bem curá-lo sem que houvesse necessidade de ele sair de sua
terra natal e do conforto de seu lar, nas condições que se encontrava. Mas
havia um propósito para ele ter que ir até aquele local.
A esperança
de obter a cura era o combustível que o movimentava em direção ao homem de
Deus. Mas Deus não queria apenas lhe conceder a cura do corpo, mas da alma, e
isso requeria algumas renúncias, alguns sacrifícios. Muitas pessoas buscam a
Deus apenas para obter algum benefício, mas tão logo os recebe, vão-se embora e
nunca mais voltam, nem para agradecer ou testemunhar. Mas aqueles que
reconhecem os seus feitos e o glorificam, esses recebem muito mais do que
vieram buscar.
Mergulhando na Graça de Deus – v 10
Ao
chegar na casa de Elizeu, talvez Naamã tenha imaginado que seria recebido com
honras conforme era comum em seu país. Porém o profeta sequer veio ao seu
encontro, mandou um mensageiro ir até ele dizendo: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão
e a tua carne será restaurada e ficarás limpo” (v 10b). Mediante aquela situação, Naamã se indignou
profundamente, pois sentiu-se humilhado, afinal, atribuía a si mesmo um alto
conceito devido a posição que ocupava. “Quem afinal era aquele homem que se
atrevia a tratá-lo com tamanha indiferença? ” - Talvez tenha pensado isso
naquela hora.
Ele
pensava que, como homem de Deus Eliseu deveria vir-lhe ao encontro, impor-lhe
as mãos sobre as feridas, e pedir ao Senhor que o curasse (v. 11) e tudo
ficaria resolvido. Mas não foi assim que sucedeu. Deus age como Ele quer. E tem coisas que para
nós, parecem loucas, mas que tem um propósito do qual não sabemos avaliar.
Naamã era um homem extremamente orgulhoso e precisava entender que estava diante do
Senhor dos senhores e que precisava se humilhar diante dEle. O Rio Jordão não
possuía poder curador, bem sabia, aliás, suas águas eram bem sujas, podendo até
comprometer ainda mais a sua saúde física. Profundamente indignado, bradou em
alta voz dizendo que se tivesse que mergulhar em um rio para ser curado, que na
sua terra natal havia rios bem mais limpos para fazê-lo. Virou as costas
indignado e fez menção de ir embora (v 12).
Porém,
os seus oficiais vieram a ele e o fizeram reconsiderar sua atitude pois vieram
até ali por um bom motivo. Se o profeta lhe dissesse para fazer qualquer outra
coisa, por mais difícil que fosse, certamente o faria, e por que não, mergulhar
no Jordão, conforme lhe havia dito? Certamente havia um bom motivo para que o
profeta agisse de tal maneira, disseram seus homens (v 13).
O Caminho da Restauração Passa Pela
Obediência – v 14
Considerou
então, Naamã, sua atitude e decidiu obedecer. Entrou no rio e mergulhou sete
vezes, conforme a palavra do profeta e então emergiu curado (v 14). Era
necessário que assim sucedesse para que Naamã não atribuísse a ninguém a não
ser ao poder de Deus a cura recebida, mediante a autoridade conferida ao homem
de Deus, cujas palavras foram proferidas. Naamã era um homem altivo e, apesar
da podridão da sua carne devido a lepra, ainda assim, mantinha a pose.
Mergulhar nas águas turvas do Jordão, representava um gesto de humilhação e
obediência. Ele decidiu obedecer, apesar de não compreender e foi curado.
A Restauração Conduz a Glorificação a
Deus – vv 15; 17
Após
as bênçãos recebidas, Naamã retorna a casa do homem de Deus para agradecer e
reconhecer que, verdadeiramente não havia em outro lugar um Deus como o Deus de
Israel (v 15). Pediu-lhe, antes de ir embora, um punhado de terra para levar
consigo dizendo: “porque nunca mais
oferecerá este teu servo holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao
SENHOR” (v 17). Naamã verdadeiramente entrega o seu coração ao Senhor
rendendo-se a Ele em adoração, agora considerando-se apenas um servo. Neste caso, a cura foi total, a restauração
foi completa. A lepra da alma fora curada.
A Adoração Verdadeira Procede do Coração
Quebrantado -v 18
Naamã
volta agora para a sua vida normal, para os seus afazeres e, já prevendo que no
seu país tinha que cumprir algumas obrigações que contrariavam agora seus
princípios, de antemão, pede perdão a Deus. Era costume ele acompanhar o seu
rei ao templo onde ali adoravam ao deus Rimom. Como um simples funcionário, não
poderia deixar de acompanhar seu superior, mas de antemão alega que mesmo que
tivesse que adentrar naquele templo e se curvar para ajudar seu senhor, ainda
assim, seu coração não mais estaria naquele lugar pois já o seu coração havia
sido ocupado pelo único e verdadeiro Deus a quem conheceu em Israel (v 18).
Bíblia
diz que: “onde estiver o teu tesouro, ali estará o seu coração” (Mt 6.21). No
mundo secular, no trabalho, na faculdade, muitas vezes temos que conviver com
pessoas idólatras, e não raras vezes somos envolvidos em eventos pagãos que se
tornaram práticas culturais. Mas em todas essas coisas, devemos guardar nosso
coração onde habita o verdadeiro tesouro em vaso de barro (II Co 4.7). Somos
imperfeitos e falhos, mas não devemos perder a essência da adoração jamais.
Conclusão
A
história de Naamã nos ensina grandes coisas. Mas sobretudo, nos leva a
considerar a nossa condição de pecador e o quanto necessitamos da graça de Deus
para sermos purificados e restaurados.
Naamã era um homem escolhido por Deus, no entanto, estava no caminho do
engano, da idolatria. Mas Deus o atraiu para si de uma maneira fantástica.
Naamã
precisou enxergar em si mesmo suas deformidades para reconhecer que precisava
de cura. O orgulho cegava-lhe o
entendimento e obscurecia-lhe a visão, mas Deus o conduziu, mediante as circunstâncias
a sua presença para que ele soubesse que havia um único Deus e Senhor o qual
poderia restaurar-lhe por completo. Ele
teve que descer nas profundezas do lodo de sua alma para emergir curado. Teve
que reconhecer a grandeza e o poder de Deus, rendendo-se por completo a Ele.
Sonia Oliveira
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