“Assim,
como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formou os ossos no
ventre da que está grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que fez
todas as coisas” (Eclesiastes 11:5)
Introdução
Uma das maiores
inquietações do homem é perceber que não está no controle de sua própria vida.
É saber que é impotente diante de algumas situações. Ele tenta, por todos os
meios ser autossuficiente. Se assim o fosse, ele certamente, não precisaria de
ninguém, seria o deus de si mesmo. Porém, por mais que relute em admitir, existe
um ser maior que está no controle de todas as coisas, que rege e governa
soberanamente todas as coisas. Enquanto não nos submetermos a Ele, estaremos
nos assemelhando as ondas de um mar revolto que se agita de um lado para o
outro até se chocar em um penhasco e perder as suas forças. É nesses momentos
que o homem entra em um conflito existencial muito grande e se desespera. Refletir
sobre essas questões se faz necessário e este texto nos fornece elementos
riquíssimos para repensarmos a nossa vida e nos posicionarmos diante do
criador.
Síntese da Mensagem do Livro de Eclesiastes
O livro e Eclesiastes
mostra as várias nuances da vida do homem que tenta viver sem Deus. Por um
lado, ele acredita que pode ser feliz por si mesmo. Busca, desenfreadamente
satisfazer os seus desejos de muitas formas, através do poder, do conhecimento,
das riquezas, do sexo, dos vícios, etc. Por outro lado, descobre também, o engano,
porque nenhuma dessas coisas podem preencher o vazio existencial que sente.
Porque há em nós um vazio do tamanho de Deus, e nada e ninguém é capaz de
preenche-lo senão o próprio Deus.
E foi essa a trajetória
de Salomão, um homem que recebeu da parte de Deus muita sabedoria e riquezas,
mas que preferiu conduzir sua vida segundo o seu próprio entendimento, de forma
extravagante e fútil. Embrenhou-se pelo
caminho do engano e tornou-se um homem infeliz. Como consequência, houve um
declínio espiritual acentuado em sua vida.
Teve tudo o que um ser
humano poderia desejar, fama, honras, riquezas, prazeres, porém, distanciou-se
dos caminhos do Senhor e, somente na sua velhice, reconheceu que desperdiçou a
sua vida com futilidades pois, admitiu que todas essas coisas eram apenas
“vaidades” (Ec 1.2). Considerou que o mais importante de tudo é o tempo que
dedicamos ao Senhor (Ec 12.1), o temor e obediência aos seus mandamentos (Ec
12.13,14). Conclui afirmando que esse é o único caminho que dá sentido à vida. Restou-lhe o arrependimento.
11 “E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos,
como também para o trabalho que eu, trabalhando tinha feito; e eis que tudo era
vaidade e aflição de espírito e que proveito nenhum havia debaixo do sol” (Ec
2.11)
Nível de Dependência de Deus
Salomão considerou que a
melhor coisa é estar com Deus, estar debaixo da obediência e do temor a Ele. Porém,
ter uma vida com Deus implica em relacionamento. Esse relacionamento é baseado
em uma estreita relação de obediência e dependência. Não podemos estar com
Deus, de braços dados com o mundo ou querendo conduzir as coisas à nossa
maneira. Deus exige de nós exclusividade e obediência. Portanto, cabe a nós a
decisão de optarmos em estar por inteiro nesse relacionamento.
9 “Mas vós, sois a geração eleita, o
sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido [...] 10 Em outro
tempo, não éreis povo, mas agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado
misericórdia, mas agora, alcançaste misericórdia”.(1Pe 2.9,10)
Somos um povo separado,
adquirido por um alto preço (1 Co 6.20), fomos resgatados pelo precioso sangue
de Jesus Cristo (1 Pe.1.19). Ele nos transportou do Reino das trevas para a Reino
do Filho do seu amor em quem temos a redenção (Cl 1.13,14). Temos agora uma
nova vida em Cristo e essa nova caminhada com Cristo, não é fácil. O exercício
de nos despojarmos da velha natureza, onde o centro de tudo era sempre o “eu”,
para agora, abrirmos mão da nossa própria vontade para que a vontade soberana
de Deus se realize em nossas vidas. O apóstolo Paulo diz que “a vontade de Deus é boa, perfeita e
agradável” (Rm 12.2) e suas bênçãos nos enriquece e não acrescenta dores
(Pv 10.22). Ou seja, o que Deus nos concede, por acréscimo de suas
misericórdias é sempre bom.
O Exercício da Fé
A Bíblia diz que o
justo viverá pela fé (Hc 2.4c). Essa fé, não é algo que adquirimos por nós mesmo,
mas nos é concedido como um dom de Deus (Ef 2.8b). Essa fé é forjada mediante
as circunstâncias que nos conduzem a um nível profundo de confiança em Deus,
alicerçada na Palavra ( Rm 10.17). De acordo com a Bíblia, fé “é o firme fundamento das coisas que se
esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11.1). Ou seja, é dar
existência a algo que ainda não aconteceu, mas que se tem a plena convicção que
vai acontecer. A fé é condição essencial
para que o mover de Deus aconteça em nossas vidas, conforme o autor das Cartas
aos hebreus diz: “Ora, sem fé é impossível
agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que
ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). Deus usa as
circunstâncias para forjar a nossa maturidade cristã.
A Dinâmica do Agir de Deus
“Assim como tu não sabes qual o caminho do vento...” (Ec
11.5a)
Assisti outro dia uma
ministração do Pr Luciano Subira, cujo título é “O Agir Invisível de Deus”,
onde ele traz uma interpretação muito interessante acerca deste versículo. E
vou tomar a liberdade de aqui fazer um rascunho da sua fala para ilustrar
melhor esta tão rica mensagem. Tomando a
sua própria fala ele diz “que Deus, não é apenas um Deus que age, mas que tem o controle de tudo o
que faz”, fazendo menção do Cap 11 de
Eclesiastes no v 5c. Sim, Deus age em todas as circunstâncias e de forma nem
sempre tão clara para o nosso entendimento. Muitas vezes, consideramos que Deus
não está vendo o nosso problema e não está agindo em nosso favor pelo simples
fato de que não temos evidências palpáveis para avaliar essa situação. Este
versículo, nos oferece a possibilidade de dimensionar o agir de Deus mesmo
quando estamos diante de um fenômeno do qual não conseguimos compreender.
O texto foi escrito em
uma época que não se tinha os conhecimentos meteorológicos para afirmar com
certeza como se dá as mudanças do vento. As correntes de ar se movimentam o
tempo todo e mudam a direção constantemente. A olhos nus não temos como
compreender o fenômeno em si, mas podemos percebê-lo pelo movimento que faz em
torno de si por onde passa, movimentando as plantas e podemos senti-lo pelo
tato. Mas não o compreendemos. Assim é também em relação a Deus. Embora não
desconsiderando a sua existência, por falta de conhecimento, não entendemos a
sua maneira de agir e até mesmo o seu silêncio, muitas vezes.
Há um Tempo para Todas as Coisas
...nem como se formam os ossos no ventre da que está
grávida...” (Ec 11.b)
Estamos acostumados a
um imediatismo, onde tudo tem que ser para ontem. No entanto, no que diz
respeito as coisas de Deus, não funciona desse jeito, pois “tudo tem o seu
tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ec 3.1). Deus
tem propósitos bem definidos para as nossas vidas. O silêncio de Deus não
significa indiferença para conosco e sim, que não nos compete saber o que Ele
está fazendo no momento. Assim como o processo de formação da criança no ventre
de sua mãe está oculto aos nossos olhos o seu desenvolvimento ocorre
lentamente, e no tempo oportuno, podemos contemplar os resultados pelas
evidências claras e óbvias. Desta forma também, Deus trabalha por nós.
O Agir de Deus é um Ato de Soberania
“... assim como também não sabes as obras de Deus, que faz
todas as coisas” (Ec 11.b).
Nem sempre podemos
compreender o agir de Deus. Mas uma coisa é certa, Ele não está indiferente à
nossa situação. Ele sabe cada detalha de nossa vida, sabe as nossas
necessidades, as nossas angústias e tristezas. Nem sempre Ele revela os seus propósitos
e só vamos compreendê-lo mais adiante. O silêncio de Deus nos deixam inseguros
e inquietos. Mas o silêncio de Deus significa também, que Ele está trabalhando
e não quer ser interrompido. Deus está
no controle de todas as coisas. A
decisão de nos revelar ou não as coisas, pertencem a Ele. Isto é um ato de soberania
divina. Ele não tem por obrigação nos dar satisfação de seus atos. Mas uma
coisa é certa, ele sempre trabalha em favor do seu povo.
Esse tempo de espera,
embora seja angustiante, é necessário. Pois, é justamente nesse período mais
difícil que devemos exercitar a nossa fé e aprender a esperar no Senhor. O
profeta Isaías diz que “aqueles que
esperam no Senhor, renovarão as suas forças e subirão com asas, como águias;
correrão e não se cansarão, caminharão e não se fatigarão” (Is 40. 31), isto porque, segundo diz o
salmista Davi, “O Senhor é a minha força
e o meu escudo, nEle confia o meu coração” (Sl 28.7). Se, verdadeiramente,
cremos que Deus é Deus, então temos que aprender a confiar nEle e descansar o
nosso coração porque no tempo oportuno, a vitória vai chegar.
Deus tem Propósitos em Tudo o que Faz
Muitas vezes nos
questionamos sobre as razões que levam Deus se manifestar de forma clara em
algumas situações e em outras se manter em silêncio. Podemos cogitar, pelo
menos duas razões pelas quais isso ocorre, conforme veremos a seguir.
1- Fortalecer a nossa fé
Conforme já,
mencionamos neste texto, toda a nossa relação com Deus é baseada na fé, “visto
que andamos por fé e não por vista” ( 2 Co 5.7), ou seja, é pela fé que nos
movemos e não por aquilo que podemos ver. A nossa relação com Deus,
necessariamente não precisa estar pautada no que vemos mas no que sabemos. E o
que sabemos é o que Ele mesmo disse, de que sempre estaria conosco em todas as
circunstâncias: “Eis que estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). É uma afirmativa de
que Ele se faz presente o tempo todo em nossas vidas. E disse mais, “Nunca te deixarei nem te desampararei ”
(Hb 13.5b). Assim, não nos resta dúvidas de que, apesar de todas as
circunstâncias, muitas vezes adversas, Deus está presente em nossas vidas e não há
porque duvidar que tudo o que Ele faz é para o nosso bem. Como diz a canção,
“Se Ele fizer Ele é Deus, senão fizer, continua sendo Deus”. A Ele a glória
para todo o sempre, amém!
2- Nos Preservar dos Ardis do Maligno
O apóstolo Paulo fala
que o Evangelho era um mistério oculto de Deus e que só foi revelado depois da
obra concluída para que o inimigo não tentasse interferir em seus planos (Ef
3.3-9). Esse mistério só foi revelado pelo Espírito aos santos (Cl 1.26). Não
tendo conhecimento pleno dos planos de Deus, o diabo, muitas vezes, na
tentativa de impedir que os propósitos de Deus se cumpram, ele acaba
corroborando para que a vitória seja alcançada, como foi no caso de Jesus,
pois, acreditando que conduzindo Jesus a morte seria o fim, ele fez de tudo
para que isso acontecesse. No entanto, era justamente a morte na cruz que
levaria Jesus a cumprir os planos de redenção da humanidade, onde ali cravou na
cruz, toda condenação que pesava sobre nós (Cl 2.14.) E a sua ressurreição é a
vitória que nos enche de esperança e nos move para irmos ao encontro do mestre.
Da mesma forma, o
inimigo não pode saber de tudo, ele observa, colhe informações, espreita, mas
não sabe o que Deus tem para nossas vidas. Sabe que somos escolhidos e isso já
é motivo o suficiente para tentar nos barrar. Porém, ele não tem permissão para
fazer o que quer. Só pode agir até onde Deus permite. E por qual razão Deus
permite o mal? Para que o mal resulte em um bem maior. No caso de Pedro, Jesus
disse: “Simão, Simão, eis que Satanás vos
pediu para vos cirandar como trigo” (Lc 22.31). Mas por que haveria
necessidade de Pedro ser tentado? Ele não tinha uma vida íntima com o mestre?
Não havia largado tudo para seguir Jesus? Sim. Tudo isso é verdade.
Mas havia ainda
necessidade desse mesmo homem ser aperfeiçoado para a grande obra que Deus
tinha para realizar através de sua vida. Ele era ainda muito carnal, muito
impetuoso. Precisava alicerçar a sua fé e amadurecer. Depois desse episódio,
Pedro nunca mais foi o mesmo. Estava agora pronto para se tornar pescador de
homens (Jo 21.17). Mas mesmo na prova,
Deus é o quarto homem na fornalha como no caso de Mizael, Ananias e Azarias (
Dn 1-30). Depois de avisar Pedro a respeito da provação que o aguardava, Jesus
disse: “Mas, eu roguei por ti, para que
tua fé não desfaleça...”” (Lc 22.32). O diabo também tentou contra a vida
de Daniel, e usou de astúcia para lança-lo na cova dos leões. Deus não impediu
a ação do inimigo, mas esteve com Daniel na cova, impedindo que os leões o
devorasse. Com isso a glória de Deus foi
manifesta e Daniel foi colocado entre os principais do reino. Ou seja, o que
era para ser a destruição, acabou servindo de alavanca para Daniel alcançar a
vitória que Deus havia projetado em sua vida.
Conclusão
Como vimos, Deus é Deus
e tem um jeito que é só dEle. Não nos cabe questionar o seu modo de agir “porque dEle e por Ele e para Ele são todas
as coisas” (Rm 11.36). A Ele seja a honra, a glória e o louvor para sempre.
Tudo o que Ele faz é perfeito e não há nada que fuja ao seu controle. Estamos
guardados debaixo de suas potentes mãos e sabemos que os seus pensamentos sobre
nós são bons (Jr 29.11), maiores e melhores do que os nossos pensamentos (Is
55.9). Deus tem planos grandes em nossas vidas, mas antes de nos colocar onde
Ele quer, ele nos capacita, nos prepara. Mesmo sem entender o porquê de muitas
provações, se Deus permitiu é porque há um propósito para isso e só vamos
entender mais adiante quando chegarmos no lugar onde Ele já preparou para
estarmos. José precisou passar por tudo que passou para chegar onde chegou. Em
parte, o inimigo usou seus irmãos para tentar destruir os planos de Deus em sua
vida, mas acabou conduzindo-o para o lugar onde estava reservado a sua vitória.
José só foi entender isso lá na frente. Sejamos perseverantes, sempre
constantes na obra do Senhor, sabendo que o nosso trabalho não é vão, no Senhor
(1 Co 15.58).
Sonia Oliveira
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