Introdução
O Capítulo 32 começa
narrando a situação em que se encontrava o profeta Jeremias. Na ocasião, ele
estava preso no pátio do palácio real porque havia profetizado que o Senhor
entregaria Jerusalém nas mãos do rei da Babilônia e que o próprio rei Zedequias
não escaparia das mãos dos caldeus que o levaria cativo e ali permaneceria até
que o Senhor o visitasse. As palavras do profeta foram tidas como
desmoralizantes à pessoa do rei, mas mesmo assim, o profeta não retrocedeu,
pois bem sabia ele que era a Palavra de Deus que fora anunciada. Apesar da
desolação diante dos últimos acontecimentos, Jeremias reconhece a soberania de
Deus e se alegra nEle porque vê claramente, que existe uma esperança para os
que esperam no Senhor pois que nada acontece ao acaso, há um propósito para
todas as coisas e nada escapa ao
controle de Deus.
Contexto Histórico
O pano de fundo
desta narrativa, conforme descrito no
v.2, era o momento do cerco do grande exército babilônico à Jerusalém em
represália ao rei Zedequias que se recusava a pagar os tributos ao rei da
Babilônia do qual era vassalo, tentando fugir ao seu controle . Zedequias era um
dos filhos do rei Josias rei de Judá morto em batalha para defender o seu povo,
Zedequias fora designado rei por Nabucodonosor, rei da Babilônia. Ele reinou em
lugar de Joaquim, seu sobrinho, filho de
Jeoaquim seu irmão (Jr. 37).
A Babilônia, durante o
reinado de Nabucodonosor impôs pesados tributos sobre as nações sob seu
domínio, inclusive Judá. As sucessivas tentativas de não pagamento provocou a
ira do Rei Nabucodonosor que investiu por três vezes contra Jerusalém, cada vez
com mais violência, até destruí-la por completo. Nesse contexto, o Rei
Zedequias, foi capturado e levado à presença do Rei Nabucodonosor, conforme a
profecia descrita por Jeremias que disse no Cap 32.4b, “seus olhos verão os
dele”.
Zedequias foi levado
cativo para a Babilônia, juntamente com o restante do povo, ficando em
Jerusalém somente os pobres (Jr 39.10). O Rei Nabucodonosor, tendo conhecimento
acerca das profecias de Jeremias e do cumprimento das mesmas, ordenou ao seu
capitão que a ele não fosse feito mal
algum e que procedessem conforme a vontade dele. A ele foi dado a opção de
escolher ficar entre seu povo ou seguir, sob cuidados especiais junto com a guarda do exército de
Nabucodonosor para a Babilônia (Jr 39.12; 40.4,5). Conforme foi a escolha do
profeta Jeremias, ele foi retirado do átrio da guarda onde se encontrava e levado
para sua casa para ficar junto a seu povo (v.14), pois sabia que ali seria boca
de Deus para os que ficaram totalmente a mercê de uma situação desoladora.
A Oração de Jeremias
Quando Jeremias ainda
estava encarcerado (Jr 32.2), recebeu da parte do Senhor, ordens para comprar
terras na sua terra natal, Anatote, lugar que estava sob o controle das forças
do exército babilônico. Segundo as palavras do Senhor, um parente seu o procuraria
e faria a proposta de compra de terras pertencentes à família. Da mesma forma
que lhe fora dito, aconteceu e então, Jeremias entendeu que era a vontade do
Senhor que ele comprasse aquelas terras e assim o fez (Jr 32. 6-9).
Depois de tudo
acertado, Jeremias ora a Deus glorificando e exaltando o seu santo nome
dizendo:
Ó SENHOR, meu Deus com o teu grande poder e com a tua
força fizeste o céu e a terra. Nada é impossível para ti. Tens sido bondoso
para milhares de pessoas, mas também tens castigado os filhos por causa dos
pecados dos seus pais. Tu és o grande e poderoso Deus; o teu nome é SENHOR, o
todo poderoso. Tu fazes grandes planos e coisas maravilhosas. Tu vês tudo o que
as pessoas fazem e tratas cada uma de acordo com o seu modo de agir e de viver.
Fizeste milagres e maravilhas na terra do Egito e continuas a fazer o mesmo até
hoje, tanto em Israel como em todas as outras nações. Por isso, agora és
conhecido em toda parte. Tiraste o povo de Israel da terra do Egito por meio de
tua força por meio de milagres e
maravilhas que enceram de terror os nossos inimigos. Destes aos israelitas esta
terra boa e rica, como havias prometido aos seus antepassados (Jr 32.17-22/NTLH)
A Rebeldia do Povo
Jeremias continua
falando com Deus, e na sua fala ele reconhece que tudo o que estava acontecendo
naquele momento era porque o povo a quem Deus tanto amava e por quem havia
feito tantas coisas maravilhosas, ao adentrarem na Terra Prometida, acabaram se
desviando de seus caminhos e praticando tudo o que era abominável aos olhos do
SENHOR, passando a viver segundo seus próprios interesses em total e franca
rebeldia (v 23).
Essa atitude atraiu
para eles a ira de Deus que os entregou nas mãos dos inimigos babilônicos. Deus havia ordenado para que exterminassem os
habitantes daquela terra onde eles receberiam por possessão (Dt 7.1,2;
20.16-18;) porque a convivência com esse povo idólatra serviria de laço e faria
o povo pecar contra o Senhor servindo a outros deuses (Êx 23.33). Moisés deixou
bem claro ao expor ao povo que conforme o caminho que escolhermos, poderemos
atrair para nossas vidas bênçãos ou maldição (Dt 28). A semeadura é livre,
porém a colheita é resultado, é consequência.
Era comum aquele
povo, não só a idolatria, mas também a imoralidade e o sacrifício de sangue
inocente nos cultos pagãos. Por isso o Senhor os proibiu de qualquer união
entre eles devido ao risco de contaminação. Porém, eles desobedeceram. O povo
não procedeu conforme as orientações de Deus.
Talvez pensassem que
não haveria o menor problema, afinal, cada um poderia levar a sua própria vida
sem que isso os influenciasse de alguma forma. Mas não foi bem isso que
aconteceu. A proximidade com o pecado faz entorpecer os sentidos, cegar o
entendimento, ofuscar a luz de Deus e conduzir ao abismo.
O exemplo de Ló é bem
claro quanto a isso. Ele foi morar nas Campinas porque foi atraído, talvez pela
beleza, pelas possibilidades materiais, quem sabe! O fato é que mesmo sabendo que Sodoma e Gomorra ficavam praticamente
ali ao lado, ele não hesitou em seguir naquela direção. Com o passar dos tempos
ele já estava dentro daquela cidade e passou a viver em meio aquele povo e
mesmo não concordando com suas atitudes, acabou sendo conivente com aquela
situação.
Essa convivência
‘pacífica’ com o pecado trouxe sérias consequências para a sua família e para
ele próprio. Por isso o evangelista João recomenda: “Não ameis o mundo nem as coisas que no mundo há. Se alguém ama o mundo,
o amor do Pai não está nele” (1Jo.2.15). Estamos no mundo, mas não fazemos
parte dele, pois somos cidadãos do Céu. Temos dupla identidade, nossa estadia aqui é transitória por isso
temos que tomar posição e assumir as responsabilidades inerentes a elas.
O Desabafo de Jeremias
O profeta prossegue
no diálogo com Deus, desta vez descrevendo a situação caótica a que estavam sendo
submetidos (como se Deus não soubesse) para comprovar que tudo estava de
conformidade com o que o SENHOR dissera que sucederia. Mesmo sabendo de tudo,
Deus se agrada quando apresentamos a ele a nossa causa, “clama a mim” (Jr
33.3), diz Ele:
Os babilônios construíram rampas de terras em volta das
muralhas da cidade a fim de invadi-la e agora estão atacando. A guerra, a fome
e as doenças vão fazer a cidade cair nas mãos deles. Como vês, tudo o que
disseste, aconteceu (Jr 32.25/ NTLH).
Ao final de sua
oração, Jeremias desabafa. Ele parece ainda não entender muito bem qual a razão
de Deus manda-lo adquirir uma propriedade, considerando que a mesma estava de
posse dos inimigos já que os babilônicos haviam tomado toda a cidade (v 25).
Porém, o SENHOR lhe diz: “Ainda se
comprarão casas, campos e vinhas nesta
terra” (Jr 32.15b). Com isso o Senhor estava lhe dando a esperança
anunciando que um dia o seu povo retornaria à sua terra e comprariam terras e
nelas construiriam casas e aquele lugar desolado seria de novo habitado. Deus
trouxe a ele a existência de algo que parecia não ser possível acontecer, com
isso lembrando que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles
que amam a Deus” (Rm 8.28a).
Resposta de Deus às Orações de Jeremias
Deus confirma a sua
soberania e diz que Ele é o SENHOR (Jr 32.27) e que por sua vontade Ele havia entregado Jerusalém nas mãos do rei
Nabucodonosor, Rei da Babilônia (v 28) para que ele e seu exército a destruísse
porque o seu povo estava queimando incenso para Baal e ofertando bebidas a
outros deuses (v 29). Diz que desde o princípio o povo só havia feito o que era
mau aos seus olhos provocando com isso a sua ira (v 30) e por isso decidira
destruí-la (v 31). Conclui dizendo que o seu povo havia lhe virado as costas e
que mesmo apesar de todo ensinamento eles não lhe deram ouvidos, não aprenderam
a lição e não deram atenção nem mesmo às advertências das consequências de seus
atos (v 33) e continuaram . Deus
menciona indignado o fato de o seu povo haver profanado o seu Templo, colocando
ali os seus ídolos horrorosos (v 34)
além de terem construído altares para Baal no vale de Bem-Hinom, para ali
queimarem os seus filhos e suas filhas em sacrifício a Moloque (v 35). Com isso
Deus estava dando um basta naquela situação.
Promessa de Esperança
Depois de ter dito sobre o juízo que aplicaria a seu povo, Deus consola o coração de Jeremias fazendo uma promessa, dizendo profeticamente que depois de passado o período de aprendizado o qual eles seriam submetidos, os restauraria e os reuniria novamente para viverem ali naquele lugar em paz e segurança, como o seu povo pois eles O teriam como seu único Deus e faria com eles um concerto perpétuo, uma Nova Aliança (Lc 22.20) pela qual jamais deixaria de fazer o bem a seu povo por causa da justificação em Cristo. O Espírito Santo estaria atuando em seus corações, colocando o temor, de forma que nunca mais poderiam ser separados de Deus conforme está escrito: “Quem nos separará do amor de Cristo” (Rm. 38b).
Conclusão
Deus é imanente, mas é também transcendente, o que isso quer dizer? Que Ele se manifesta a seu povo através de seus atributos cuidando de perto, zelando, conduzindo, abençoando, amando, porém, é soberano e justo e embora tenhamos o livre-arbítrio, a nossa liberdade não pode fugir à sua Lei. Qualquer transgressão gera consequências e na sua misericórdia, Deus tem alertado o seu povo quanto a essa questão, mas o povo não tem dado a devida atenção, tem virado às costas para os seus ensinamentos, vivendo em franca rebeldia contra o Deus.
O cativeiro é uma das formas de disciplinar e trazer o povo de volta à obediência. Tanto ontem quanto hoje, embora os contextos sejam diferentes, na essência, o povo continua agindo da mesma forma. Mas conforme está escrito, “O Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12.6), pois qual o pai que ama seu filho negligencia a sua educação? Que possamos refletir sobre essas questões para a nossa edificação.
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- Sansão - Exemplo de Imaturidade
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- Josué e Calebe - Enfrentando o Gigante do Medo
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