A CARNALIDADE EM CORINTO É O CERNE DE SEU DECLINIO ESPIRITUAL
Texto base: I Cor. 3:1-4)
Objetivos
Esta é uma série de estudos que
pretendo compartilhar com os irmãos, começando pelas cartas aos coríntios, cujo
teor se assemelha a muitos problemas ainda hoje enfrentados dentro das igrejas,
e que por isso mesmo, nos possibilita um grande aprendizado. Aprender com os
erros dos outros é sinal de sabedoria, porque nos permite refletir sobre o que
deve ser evitado em nossa prática cristã. Nesse primeiro momento, estaremos
focando, principalmente o problema da divisão dentro da igreja, a imaturidade
espiritual de seus membros e a presença ainda muito forte da carnalidade.
Introdução
Nessa primeira etapa de estudo
estaremos contextualizando em primeiro lugar, a cidade de Corinto em seus
aspectos geográfico, cultural e moral, situando as condições de implantação da igreja
fundada por Paulo e o surgimento de problemas que caracterizavam as condições
espirituais daquele povo e as medidas que se fizeram necessárias para coibir
essa problemática. Os textos serão analisados parte a parte a fim de
possibilitar uma reflexão sobre posturas inadequadas que não devem permear a
prática cristã. Que possamos aprender com os erros e acertos do passado para
que a obra do Senhor seja edificada.
Cidade de Corinto
Corinto
era uma cidade grega muito próspera, considerada uma grande metrópole por
muitas de suas características.
Localizava-se próximo a Atenas e era uma cidade portuária de grande fluxo
comercial, onde transitava por lá, diariamente, pessoas de várias partes do
mundo. A cultura e a filosofia era o seu ponto forte. O povo reunia-se em
lugares públicos para discutir filosofia. Por considerar a sua posição social,
cultural e econômica, o povo tornou-se muito arrogante.
Idolatria em
Corinto
A
idolatria era muito forte em
Corinto. O povo cultuava muitos deuses, dentre eles,
Afrodite, deusa do amor, Eros e Apolo, deus da luz, também considerado símbolo
da beleza e da perfeição. Por causa dessas crenças, havia uma inclinação muito
forte aos apelos carnais. Havia, na cidade, templos consagrados a Afrodite,
onde mulheres eram prostituídas pelas sacerdotisas e, durante os cultos de
adoração a essa deusa, muitos homens eram atraídos aos templos que eram
verdadeiros antros de orgias. A cidade de Corinto tornou-se um atrativo
turístico para aqueles que buscavam esse tipo de prazer. Também, havia a
prática homossexual, por conta do culto a Apolo. Esse declínio moral repercutia
de forma negativa sobre a cidade e sua fama espalhava-se rapidamente para
outros lugares.
Razões de Paulo
fundar os alicerces do cristianismo em Corinto
Por
todas as razões expostas, Corinto era uma cidade comprometida espiritualmente.
Esse era certamente o ponto chave que levou Paulo, dentre outras motivações, a
fundar uma Igreja em
Corinto. Outra questão também motivadora, era o fato de que
Corinto era uma cidade cosmopolita e portuária onde circulava pessoas de todas
as partes do mundo e a implantação do evangelho nesse lugar era uma excelente
estratégia de disseminação do cristianismo.
Primeira
Comunidade Cristã em Corinto
Juntamente
com Áquila e Prisca (16:19 e At. 18:1) e
uma equipe que o acompanhava em suas missões (At. 18:5), Paulo, fundou a Igreja
em Corinto, durante o período de seu ministério de dezoito meses no local,
depois de sua segunda viagem (At. 18:1-17). A Igreja era composta de alguns
judeus, e grande maioria de gentios, resgatados do paganismo, da prostituição e
do homossexualismo. Após a partida de Paulo, seguindo o roteiro missionário,
Corinto começou a manifestar sérios problemas os quais requeriam uma
intervenção doutrinária imediata. Paulo tão logo ficou sabendo dessa situação, considerando
sua gravidade, agiu rapidamente e com muita energia, escrevendo as epístolas,
cujo teor, será abordado nesse estudo.
Primeira carta
aos coríntios
Essa
carta foi escrita no período do seu
ministério em Éfeso (At. 20:31) que durou três anos, na sua terceira viagem
missionária (At. 18:23 – 21:16). Paulo fica sabendo dos problemas em Corínto ,
através de uma carta levada até ele pelos da família de Cloé (1Cor.1:11 – 7:1).
E também, por meio de uma delegação da congregação em Corínto (1Cor.16:17) que
relatava os pormenores de todas as questões, com um apelo urgente para que
Paulo interviesse, dando instruções a respeito. Com base nesses relatos é que
Paulo responde “me foi comunicado [...] que há contendas entre vós” (1Cor.
1:11).
Exortação à Igreja
Paulo,
na apresentação do seu discurso, primeiramente evidencia os aspectos positivos
da comunidade e a manifesta presença do Espírito Santo, derramada na Igreja por
meio de dons espirituais (1cor.1-7). Em seguida exorta-os quanto às questões
que chegaram até ele, conclamando-os para que haja mais unidade entre si, por
motivos óbvios.
Problemas de divisão
na Igreja de Corinto
Essa
primeira carta trata de muitos problemas, todos essencialmente carnais (1cor
3:1-3), que estavam causando divisão (1:10-13–11:17-22) dentro da Igreja de
Corinto e comprometendo, não somente a
doutrina cristã, como também, o andamento da obra do Senhor. Havia nessa comunidade uma manifesta
facção (grupos), cujos integrantes se posicionavam contrariamente cada um
querendo prevalecer sobre o outro, tendo como argumento o fato de serem partidários, alguns de Paulo, outros de Apolo (At.18:24),
outros de Cefas (Pedro), e por último, alguns se apoiavam na figura de Cristo
(1Cor.1:10-4:21), formando, verdadeiras “panelinhas dentro da Igreja,
demonstrando com tais posturas, imaturidade espiritual.
As
Facções - Disputa pelo poder
a)
Grupo de Paulo
De
forma geral, havia divisão no tocante a liderança. Conforme já foi mencionado, devido
aos diferentes posicionamentos, foi se formando, dentro da Igreja, verdadeiras
facções (1Cor.1:12). O grupo que se
dizia de Paulo representava as pessoas mais antigas, ou seja, os fundadores, os
que se julgavam, como que “proprietários” da Igreja, os que ditavam as regras e
que se opunham a qualquer outro posicionamento e, tornando-se, por conta disso,
arrogantes e prepotentes.
b)
Grupo de Apolo
O
grupo que se dizia de Apolo (At.18:24-28),
representava uma postura comum entre o povo de Corinto que era a dos que faziam
apologia ao discurso intelectualista filosófico. Apolo era judeu de Alexandria,
homem versado nas Escrituras e um pregador eloqüente. Representava o grupo dos
intelectuais, que defendiam a idéia da prevalência de um saber rebuscado, ou
erudito, na condução de uma pregação, porque consideravam apenas o conhecimento
humano. Por serem excessivamente intelectuais, acreditavam ser melhores do que
os demais, tornando-se por conta disso, soberbos. Não obstante à manifesta
preferência desse grupo, e os atributos que lhe eram conferidos, Apolo não demonstrou
agrado com tais condutas e preferiu não mais retornar a Corinto (1Cor.16:12). Paulo, no tocante ao saber humano, dizia que
não deveriam se gloriar em si mesmos, porque quando Deus quer levantar um
pequenino e torná-lo grande, assim o faz, justamente para confundir os doutos
(1Cor.1:18-31-3:18-19), deixando-os perplexos, porque para eles isso é loucura.
Mas é assim que Deus age, para que a honra e a glória sejam dadas a Ele,
unicamente, e seu nome seja exaltado.
c) Grupo de Cefas (Pedro)
Esse grupo era constituído por
judeus (At.18:8), um povo excessivamente tradicional que se apoiavam em Pedro
(1Cor.1:12), que representava uma forte liderança em Jerusalém (Gl.2:7). Ele se
distinguia de Paulo pela sua postura mais conservadora em relação a alguns
aspectos no tocante a aplicação de
cerimoniais prescritas no A.T. (Gl.2:11-17). Embora nunca tenha ido à Corinto,
tinha a simpatia do povo judeu de lá, que manifestadamente apresentavam
dificuldades no convívio com uma comunidade em que a sua maioria vinha de
crenças pagãs.
d)
Grupo de Cristo
Este
grupo dizia seguir a Cristo tão somente, e embora pareça a principio uma
posição correta, foi criticada por Paulo
por sua tendência facciosa. Não seguiam orientações de nenhum apóstolo e se denominavam o grupo dos “espirituais”
(1Cor.3:1) dentro da Igreja, dando a entender um grupo seleto. Para eles o conceito
de espirituais estava relacionado com os dons do Espírito como falar em línguas
e a profecia (1Cor. 4:3-4:18-21-14:37). Consideravam-se especiais porque criam
que mantinham uma relação estreita com Deus e que por esta razão, não
necessitavam de direcionamento humano. Negavam a autoridade dos apóstolos e,
principalmente a liderança de Paulo. Não aceitavam que suas mensagens fossem
questionadas porque as tinham como verdades absolutas. A presunção era tamanha
entre eles que julgavam as interferências de Paulo desnecessárias na Igreja.
Paulo exorta a igreja de Corinto
Paulo
deixou bem claro que a nenhum e a nem outro deveriam seguir (1Cor.1:4), mas
unicamente a Cristo (1Cor.1:5–4:6)). Ressaltou ainda, que na Igreja, há
diferentes dons para que a obra do Senhor seja engrandecida. Todos somos
membros de um mesmo corpo, cada um, embora exercendo funções diferentes, são
igualmente necessários e importantes. Não havendo, portanto, maior ou menor,
mas diferentes formas de cooperação (1Cor. 3:9).
Declínio moral do
povo
Além
da questão da divisão, havia outra, que dizia respeito ao declínio moral que
estava se alastrando dentro da igreja devido a não superação das más
inclinações, provenientes do pecado que corrompia aquela cidade e que
permanecia arraigado nas entranhas dos novos convertidos que não estavam ainda
totalmente libertos e por conta disso levavam uma vida que contrariava os
princípios cristãos. Muitos até, haviam voltado a praticar atos próprios de sua
vida antiga (1cor. 5:1-3 – 6:12-20). Esses são os sinais evidentes de que a Igreja
de Corinto necessitava de conversão, de direcionamento espiritual.
Erros
doutrinários e suas consequências
Havia
dentre os membros da Igreja de Corinto uma dualidade, pois consideravam que o
corpo estava desvinculado do espírito e que, portanto, o que o corpo fizesse
não traria prejuízo para a alma. Esse entendimento doutrinário equivocado os
levou a praticar muitos tipos de imoralidade, incluindo-se o envolvimento com
prostitutas. Paulo os exorta para o fato de que o povo de Deus deve viver em
santidade, argumentando que o nosso corpo é templo de Deus (1Cor. 3:16-17) e
que devemos viver em
santidade. O mundo pode até nos oferecer seus manjares, mas
cabe ao cristão ter discernimento para saber fazer as escolhas certas. Paulo diz no seu discurso, “todas as coisas me
são lícitas, mas nem tudo me convém” (1Cor.6:12), alegando que um dia teremos
que prestar contas de todas as nossas ações, sejam boas ou más, certas ou
erradas (2Cor.5:10).
Conclusão
Os
problemas apresentados nesse estudo não esgota a problemática de Corinto, mas
aponta a carnalidade como o cerne do
todas as questões pontuadas e geradora de comportamentos que comprometem a
espiritualidade individual e refletem na Igreja, assim como foi no passado, é também,
no presente. O orgulho, a disputa pelo poder, a presunção, o declínio moral
dentre outras situações descritas no texto são apenas indícios dessa condição
humana precária. Todos os problemas apresentados refletem um nível elevado de imaturidade
espiritual da Igreja. Problemas como estes não devem ser ignorados, mas sim
tratados com muita responsabilidade e com o mesmo comprometimento com que Paulo
assim o demonstrou, tomando as atitudes corretas na medida certa. Que possamos
aprender com os erros de nossos irmãos do passado considerando que somos tão
falíveis quanto qualquer um e que o mal tem que ser cortado pela raiz. Cada um
deverá prestar conta de si mesmo e, portanto, que cada um medite e tire
proveito desse aprendizado da forma que julgar melhor às suas necessidades de
aperfeiçoamento enquanto cristão.
Sonia Oliveira
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